Protocolo de Cancro da Próstata

Protocolo de Cancro da Próstata

Diagnóstico, Estadiamento e Tratamento

Clínica e Rastreio

Apresentação Clínica
  • Assintomático: Forma mais frequente.
  • Sintomas Locais: Sintomas do trato urinário inferior inespecíficos (LUTS).
  • Sintomas de Metastização: Dor óssea e/ou compressão medular.

Nota: No caso de doença metastática com afetação vertebral conhecida e novos sintomas neurológicos, recomenda-se a realização de RMN urgente para descartar compressão medular.

Sinais e Exame Objetivo

PSA (Antigénio Específico da Próstata):

  • Sugestivo se PSA > 10; ou PSA > 4 e PSA livre < 25%.
  • Falsos negativos: Níveis podem estar anormalmente baixos por inibidores da 5-alfa-redutase.
  • Falsos positivos: Níveis altos em caso de inflamação, manipulação prostática, doença benigna.

Toque Retal:

  • Sugestivo se nódulo palpável na zona de transição prostática, consistência dura, limites mal definidos, assimetria.
  • Pode ser normal numa fase inicial da doença.
Rastreio (Screening)

O screening por PSA não é aconselhado por rotina. Opta-se pelo Rastreio Oportunístico, considerando os riscos, em:

  • Homens > 50 anos;
  • > 45 anos com história familiar e afro-americanos;
  • > 40 anos se portador de BRCA 1/2.

Exclusão: Não devemos testar assintomáticos com esperança de vida < 10 anos.

Diagnóstico e Estadiamento

Abordagem Diagnóstica
  • 1º Passo: RMN multiparamétrica.
  • 2º Passo: Se RMN positiva (PI-RADS ≥ 3), proceder a biópsia transretal guiada por ecografia.
  • Nota: A biópsia deve ser feita apenas em doentes com esperança de vida > 10 anos.
  • Em tumores metastáticos (M1), a biópsia de um foco metastático pode ser suficiente.

Histologia: Encontrada em 99% dos casos é o adenocarcinoma.

Classificação de Risco (Gleason e TNM)

O Score de Gleason (GS) varia de 2 a 10 (10 = pior prognóstico) e guia a necessidade de estadiamento.

Estratificação de Risco (Doença Localizada):

  • Baixo Risco: T1-T2a e GS ≤ 6 e PSA ≤ 10.
  • Risco Intermédio: T2b e GS = 7 e/ou PSA 10-20.
  • Alto Risco: ≥ T2c ou GS = 8-10 ou PSA > 20.

Tratamento: Doença Localmente Avançada (M0)

Sensível à Castração

Critérios: ECOG 0-1 e esperança de vida superior a 5 anos.

a) Sem contraindicação para Radioterapia Externa

Opções de Tratamento:

  • Opção 1: Radioterapia Externa + Hormonoterapia clássica (3 anos) + Abiraterona (2 anos).
  • Opção 2: Radioterapia Externa + Hormonoterapia clássica (2 a 3 anos) + boost com Braquiterapia.

Considerações para Braquiterapia: Doentes selecionados com esperança de vida > 10 anos e baixo risco cirúrgico.
Não aplicável em: Casos N1, queixas urinárias importantes ou próstatas < 20cc ou > 60cc.

b) Contraindicação para Radioterapia Externa
  • Prostatectomia Radical + Linfadenectomia alargada.

Nota: Considerar em doentes selecionados com esperança de vida > 10 anos e baixo risco cirúrgico (com forte probabilidade de necessidade de mais tratamentos).

c) Contraindicação para Abiraterona
  • Radioterapia Externa + Hormonoterapia clássica (2 a 3 anos).

Contraindicações da Abiraterona:

  • Hipersensibilidade à substância ativa;
  • Compromisso hepático grave (Child-Pugh Classe C);
  • Combinação com Rádio-223 (Ra-223).

Definição de Hormonoterapia Clássica:

Utilizada para reduzir os níveis de testosterona (castração química) através de:

  • Agonistas GnRH (ex: Leuprolide);
  • Antagonistas GnRH (ex: Degarelix).
Resistente à Castração (M0)

Em todos os doentes: Propor castração cirúrgica ou manter hormonoterapia clássica.

Critérios para intensificação terapêutica:

Se ECOG 0-1 E tempo de duplicação do PSA ≤ 10 meses, complementar o tratamento com um dos seguintes:

  • Apalutamida (240 mg id);
  • Darolutamida (600 mg 2id);
  • Enzalutamida (160 mg id).

Nota: O critério de seleção entre os fármacos relaciona-se com o perfil de efeitos laterais e interações de cada um, devendo a escolha ser individualizada.

Tratamento: Doença Metastática (M1)

2.1 Hormonossensível (mHSPC)

O tratamento depende do volume da doença (definição do Ensaio CHAARTED).

Definição: Alto vs Baixo Volume

Doença de Alto Volume (CHAARTED/STAMPEDE): Presença de:

  • Metástases viscerais; OU
  • ≥ 4 metástases ósseas, incluindo ≥ 1 metástase extra-axial (fora da coluna/pélvis).

Nota: No ensaio STAMPEDE, alto volume também considera ISUP ≥ 4.

Terapêutica: Baixo Volume

Baseado nos ensaios STAMPEDE, ENZAMET e TITAN:

Ensaios STAMPEDE e HORRAD:

  • ADT + (Docetaxel ou Abiraterona ou Enzalutamida ou Apalutamida) + Radioterapia Prostática.

Alternativas:

Terapêutica: Alto Volume

Baseado nos ensaios CHAARTED, LATITUDE, ENZAMET, ARCHES e TITAN:

  • ADT + (Docetaxel ou Abiraterona ou Enzalutamida ou Apalutamida).

A escolha entre fármacos deve ser partilhada com o doente, ponderando toxicidades, dada a falta de dados comparativos de superioridade direta.

2.2 Resistente à Castração (mCRPC)

Definição de Resistência: Progressão sob ADT com testosterona < 50 ng/dL:

  • Subida de 50% do nadir de PSA e PSA > 2ng/mL (3 análises);
  • ≥ 2 metástases ósseas ou 1 visceral; ou progressão das existentes.

Nota: Manter ADT enquanto se iniciam novas linhas terapêuticas.

Já fez ARTA (Abiraterona/Enza/Apalutamida)?
Sim (e fez Docetaxel)

Opções (Adicionar à ADT):

Sim (mas NÃO fez Docetaxel)

Opções (Adicionar à ADT):

NÃO fez ARTA previamente?
Fez Docetaxel?

Opções preferenciais:

Outras opções:

  • Cabazitaxel;
  • Niraparib + Apalutamida (MAGNITUDE);
  • Olaparib + Abiraterona (PROpel);
  • Talazoparib + Enzalutamida (TALAPRO 2);
  • Sipuleucel-T ou Rádio-223 (ALSYMPCA).
NÃO fez Docetaxel?

Opções preferenciais:

Outras opções:

  • Docetaxel;
  • Sipuleucel-T ou Rádio-223;
  • Olaparib + Abiraterona (PROpel);
  • Talazoparib + Enzalutamida (TALAPRO 2);
  • Niraparib + Abiraterona (MAGNITUDE).